A dengue era conhecida, no século passado, como a “febre quebra-ossos”, pela intensidade das dores que provoca.
Após um período de controlling na década de 1950 que durou mais de 40 anos, a doença reapareceu recentemente, com surtos isolados em diversas cidades brasileiras. Hoje, ela volta a se destacar na mídia, com epidemias em vários estados do país.
Com a chegada do frio e a redução das chuvas, espera-se uma diminuição na circulação do mosquito transmissor. No entanto, não podemos nos iludir: os riscos permanecem, e a prevenção continua sendo fundamental.
O que é a Dengue?
A dengue é uma doença infecciosa aguda, causada por vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Ela se manifesta após um período de incubação de 3 a 4 dias, com sintomas como febre muito alta (até 40 graus), dores pelo corpo, dores de cabeça e nos olhos, além de grande prostração — daí o nome “febre quebra-ossos”. Essa fase requer repouso, diagnóstico precoce e acompanhamento médico especializado.
No início, a dengue pode parecer uma gripe forte, mas seu curso evolui de forma diferente, podendo evoluir para quadros mais graves e de risco. É importante ressaltar que ela NÃO é transmissível de pessoa para pessoa, ou seja, não se transmite pelo contato direto, apenas pela picada do mosquito contaminado.
Dados alarmantes de São Paulo em 2024 e 2025
De janeiro a dezembro de 2024, o estado de São Paulo registrou mais de 2 milhões de casos de dengue, o que representa o maior número desde 2000, início da coleta oficial de dados. Nesse período, também ocorreram 2.050 mortes provocadas pela doença — um número preocupante que mostra a gravidade da situação.
Em 2025, o Governo do Estado de São Paulo, devido à alta incidência, chegou a decretar estado de emergência e implementou medidas de combate à doença. E a região de Ribeirão Preto figura entre as três cidades de maior incidência da doença.
No Brasil como um todo, o total de óbitos até abril de 2025 teve uma redução de 83%. Apesar dessa melhora, a dengue continua sendo uma das principais causas de internações e mortes no país.
Contexto de Surto e Tipos de Vírus
A dengue tem quatro subtipos (sorotipos), que podem causar formas mais ou menos graves da doença. Geralmente, os surtos envolvem um único subtipo, do qual os indivíduos infectados ficam imunizados contra esse tipo específico, mas permanecem vulneráveis aos outros. Quando há uma troca de subtipo em novos surtos, quem já teve dengue pode desenvolver formas mais graves, incluindo a hemorrágica, o que é preocupante.
Nos últimos anos, tivemos surtos causados pelos subtipos 1, 2 e mais recentemente pelo 3. Notícias indicam a circulação do subtipo 4 em algumas regiões.
Desafios no Controle do Vetor
Controlar o mosquito transmissor é uma tarefa extremamente difícil, devido às condições de higiene inadequadas em muitas regiões brasileiras. Além de água parada em vasos, pneus e garrafas, há também piscinas abandonadas que podem se tornar criadouros. Por isso, a eliminação do vetor exige esforço constante e cooperação de toda a comunidade.
Prevenção: Vacinação e Cuidados Ampliados
Quando surgem surtos de dengue, procurar assistência médica imediatamente é fundamental. Além disso, colaborar com os órgãos de saúde no controle do mosquito é uma responsabilidade de todos.
Desde março de 2023, o Brasil conta com a vacina Qdenga, uma imunização tetravalente que utiliza vírus vivo atenuado. Ela é indicada para prevenir a dengue em pessoas de 4 a 60 anos, sendo administrada em duas doses, com um intervalo de três meses. Estudos demonstram eficácia de cerca de 80% contra a doença, incluindo casos graves e hospitalizações.
Outra vantagem importante é que a vacina pode ser aplicada tanto em quem já teve dengue quanto naqueles que nunca tiveram contato com o vírus. Essa é a primeira vacina liberada no país para quem nunca teve a doença, aumentando a proteção de toda a população.
Por que se vacinar?
A melhor estratégia para evitar a dengue é a prevenção, que inclui medidas de combate ao mosquito e a vacinação. A vacinação é uma ferramenta segura, eficaz e recomendada, contribuindo para reduzir os surtos e salvar vidas.
Proteger-se contra a dengue é uma responsabilidade de todos. Procure seu profissional de saúde, informe-se sobre a vacinação e adote hábitos que façam a diferença na sua saúde e na de toda a comunidade.
Dr. Alberto Dabori é pediatra e diretor médico do Prevent – Centro de Vacinação Preventiva